Buraco na camada de ozônio desaparece no Ártico

Entenda como o desaparecimento do buraco no Hemisfério Norte foi causado por um vórtice polar


Representação da passagem de raios ultravioleta na região do buraco na camada de ozônio. Arte: Vitória Menezes


Por Ana Clara Archanjo

De acordo com o Serviço de Monitoramento de Atmosfera Copernicus (CAMS), da União Europeia, no final de março surgiu um grande buraco na camada de ozônio, na região ártica. O buraco correspondia ao tamanho de três Groenlândias, o maior registrado nos últimos nove anos. O fenômeno foi decorrente de um vórtice, ou vórtex, polar, acontecimento atípico no Hemisfério Norte.

O vórtice polar consiste em um redemoinho de ventos frios, sendo formado na área da estratosfera, que condensa cerca de 90% do ozônio atmosférico. A combinação harmônica  e rara  de correntes de ventos com temperaturas mais baixas do que o normal foram responsáveis pela criação de um ambiente ideal para a ocorrência do efeito.

A reação do vórtice polar com as moléculas de bromo e clorofluorcarbonos (CFCs), presentes na atmosfera, devido à queima de combustíveis fósseis e à atividade industrial, propiciaram a abertura e manutenção do buraco por quase um mês.

Efeitos de diferentes raios UV. Foto: blog.uvline.com.br

A camada de ozônio é responsável por barrar a passagem de raios ultravioleta do tipo B (UV-B). Quando em excesso, os raios podem desencadear câncer de pele, danos à visão humana e, até mesmo, o desequilíbrio de ecossistemas animais.

Segundo o pesquisador especialista em radiações UV e na camada de ozônio, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), Plínio Alvalá, uma consequência da formação do vórtice seria o “aprisionamento de ventos ricos em bromo e CFCs”, resultando no consumo contínuo do ozônio presente na atmosfera.

O vórtice cria um ciclo de ventos fechado, que não permite a entrada de novas correntes de ventos ricas em ozônio. A partir do bromo e dos CFCs, a reação de consumo das moléculas de ozônio é catalisada, com velocidade maior do que o tempo necessário para a reposição do ozônio natural da região. Seria necessária a ocorrência de uma reação paralela para retirar os catalisadores.

“Como o vórtice impede a entrada de ar rico em ozônio e de outros compostos, a reação fica confinada, podendo zerar o ozônio em algumas altitudes”, explica Alvalá.

Esquema gráfico da dinâmica de ventos do vórtice polar. À esquerda, o ar contido em um vórtice em sua dinâmica mais forte. À direita, a representação da divisão do vórtice e seu enfraquecimento. Arte: Vitória Menezes

Para a professora de Engenharia Química e Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Damaris Kirsch, o buraco permanece aberto por conta do vórtice polar, sendo fechado somente com a quebra dele. Ou seja, o rompimento possibilitaria a circulação de novos ventos ricos em ozônio na região.

Protocolo de Montreal

Criado em 1987, o Protocolo de Montreal é o único tratado ambiental assinado por todos os países. As ações deste protocolo foram responsáveis por promover a proteção da camada de ozônio de forma efetiva.

A partir dele, foi possível estabelecer prazos visando o fim das emissões de gases destruidores de ozônio em escala mundial, substituindo eles por uma espécie menos agressiva que não dura mais do que 12 anos na atmosfera.

Os gases que contêm moléculas de cloro e bromo, proibidos pelo protocolo, duram um período de 60 a 120 anos na região da troposfera, de acordo com Plínio Alvalá. Por isso, apesar das medidas propostas pelo acordo, a camada de ozônio precisará de um grande período de recuperação.

Em relação ao Brasil, o país destacou-se por suas ações de proteção e investimento em pesquisa em relação à camada de ozônio, recebendo homenagens na reunião geral dos países de 2014.

Edição: Anna Araia

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